| tenho espondilite anquilosante... porquê eu?



E porque não eu?

Há pouco tempo atrás, no meio de uma crise daquelas que só nós sabemos como são, durante um dos programas da manhã, conheci Otília Pires de Lima.

Mais um Ser que me ensinou que a Vida é para Viver, não para ser vivida... fica aqui o seu testemunho:


Já lá vão uns anos.

Em meados de Março de 1999 comecei a sentir-me mal, sem nenhuma dor específica além da ausência assustadoramente crescente da força anímica e física. Qualquer movimento me exigia um esforço cada vez mais acrescido.

Uma pequena perda sanguínea entre o período menstrual levou-me ao ginecologista que me detectou, numa ecografia pélvica, um quisto providencial no ovário esquerdo. Digo providencial porque, como tinha indicação cirúrgica, me levou a fazer, entre outros exames, análises ao sangue. Tinha feito hemograma em finais de Dezembro de 1998, estando os valores todos normais. Contudo, a 17 de Maio de 1999 a minha hemoglobina estava a 6. Quando fui levantar as análises, justamente dia do 21º aniversário da minha filha, a hemoglobina estava a 5.5 e no dia seguinte a 5.

Contra a minha vontade, fui internada de urgência a 19 de Maio, comemorando a hora do nascimento da Telma numa maca do corredor do serviço de obstetrícia do Hospital de S. Francisco Xavier. Três dias depois era transferida para o serviço de Hemato-Oncologia do Hospital Garcia de Orta em Almada.

A minha situação clínica era tão grave que os melhores prognósticos me davam, no máximo, quatro semanas de vida.

Se há algo que desconhecemos em nós, é o potencial gigantesco da nossa força interior. No vasto leque de coisas que nos ensinaram, colocaram sempre fora de nós a capacidade de operar verdadeiros milagres.

Ensinaram-nos que somos filhos de Deus, esquecendo de nos dizer que a nossa filiação divina nos faz transportar dentro de nós a essência do Deus Pai.

Aceitei a Leucemia Mielóide Aguda (LMA), no entanto, recusei-me terminantemente a morrer. “NÃO!” foi o ensurdecedor grito interior que se soltou em mim, após saber o que me minava o sangue, determinando o início da minha cura contra as perspectivas mais optimistas.

Tenho 2 filhos e sou a última de 5 filhas. Pela Telma, pelo Nuno e especialmente por os meus pais decidi viver, enfrentado com algum humor e imenso Amor o longo período dos três tratamentos que me deixaram isolada do mundo num quarto fechado, em profundo silêncio comigo.

Nesta convivência, descobri-me e aprendi a amar, amando-me. Aprendi até a amar a leucemia para que ela passasse por mim sem deixar sequelas e passou. Aprendi a aceitar-me e a aceitar.

Tive o privilégio de nunca colocar aquela pergunta peregrina: “Porquê eu?” Coloquei sempre a seguinte questão: “O que é que eu tenho de aprender com isto?” Esta pergunta deixou-me atenta a quanto se passava dentro e fora de mim, abrindo-me à aprendizagem da essência das coisas e ao imenso poder curativo do Amor.

Cedo comecei a perceber a importância fundamental de Amar e Aceitar. Cedo comecei a perceber que a estas duas incomensuráveis forças é essencial a companhia do Perdão. No respeitante ao perdão, também nos ensinaram toda a vida apenas a dirigi-los aos outros.

Aprendi que em tudo temos de começar por nós. Para saber aceitar é necessário aceitarmo-nos, para saber amar é necessário amarmo-nos, para perdoar é necessário saber perdoarmo-nos.

De entre as muitas coisas que aprendi durante o longo e muitas vezes sofrido período da LMA, fiquei a conhecer o triângulo mágico que conduz ao milagre: Amar, Aceitar e Perdoar.

Foi com ele e o poder da melhor oração que conheço - o agradecimento - que venci a Leucemia, chegada para me vencer a mim. Venci a doença sem tão pouco ter feito auto-transplante que me dava a modesta possibilidade de 10% de sobreviver.

Apesar de ter feito duas recolhas de medula óssea, uma por sangue periférico outra por cirurgia, conseguiram-se apenas na soma de ambas pouco menos de um quarto do número de células suficientes.

Agradecer, de preferência com o coração transbordante de alegria, é a melhor oração porque assenta na certeza de obter.

Acreditamos de tal forma que sentimos a alegria de já ter obtido.

O que aprendi com a imensa provação da doença foi que se é possível vencer a morte, é possível vencer tudo, desde que se Ame, Aceite, Perdoe, confiando que o Universo sabe sempre o que é melhor para nós e conhece a melhor forma de o alcançar.

4 de Outubro de 2007

Otília Pires de Lima

Tomei a liberdade de sublinhar algumas palavras que me disseram muito quando as li - e, que ainda continuam a dizer - espero que este testemunho vos ajude como me ajudou a mim.

Otília é somente mais uma Caminhante neste Caminho longo que é a Vida. E tal como todos nós, portadores de EA, Otília não está só. Não obstante, em vez de fazer da sua doença um motivo de desistência, deu-lhe a mão, chamou-a de amiga... e juntas, Caminharam até a sua doença se ter tornado uma lembrança.

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