| porque não somos árvores


quando recebi o diagnóstico de ea, já estava em casa dos meus pais, há cerca de um mês. finalmente e felizmente, tinha conseguido vender a minha casa, sem que tivesse ficado qualquer prestação em falta.

eu nunca deixei de trabalhar (umas vezes, conseguia trabalhar em full-time, outras, trabalhava a tempo parcial - conforme as dores permitiam), de modo a conseguir honrar os meus compromissos mas, estava cada vez mais difícil continuar e vi-me obrigada a despedir-me.

quando o reumatologista me informou da ea, fiquei tão feliz! afinal não estava maluca, como a sociedade me fazia crer, nem me tinha tornado preguiçosa, como muitos, à minha volta, me acusavam!

depressa, porém, todo esse entusiasmo se desvaneceu. senti-me, verdadeiramente, perdida, quando recebi a informação sobre a espondilite, facultada pela a anea. o meu chão desapareceu, de vez. segundo aqueles prospectos, eu só iria piorar até ficar toda anquilosada (a doença provoca uma perda dos movimentos das articulações e, com o tempo, a anquilose torna-se total, porque ocorre a soldadura óssea, em volta das articulações, provocando a rigidez e, consequentemente, a imobilização total e efectiva). chorei, gritei, dei murros na cama e só parei porque apercebi-me que os meus pais estavam a chorar...

após ter passado pelas cinco fases do meu, muito difícil, luto (foram três meses de muita raiva e muita revolta que culminaram numa, imensa, vontade de morrer e após ter descoberto o frigorífico e a despensa, completamente, vazios, iniciei a minha busca por soluções susceptíveis de resolver tudo aquilo que estava a viver e a obrigar os meus pais a viverem, também.

desisti das minhas consultas de acupunctura e dos tratamentos de fitoterapia (que eram demasiado dispendiosos) mas, como tinha frequentado, durante três anos, a universidade de medicina chinesa, eu auto-aplicava as agulhas, fazia moxa e eletroestimulação. também recorria aos tratamentos com laser (low-level laser therapy) conseguindo, assim, mitigar um pouco, as dores... contudo, não chegava. eu sentia a doença a progredir e, ainda que seguisse o protocolo prescrito pelo meu reumatologista, não conseguia, de modo algum, trabalhar e, para além disso, à altura, estes medicamentos eram absurdamente caros - e já andava há anos, a correr médicos, especialidades, medicamentos e tratamentos, decididamente, inúteis e incrivelmente onerosos.

eu continuava a pesquisar a doença, nas páginas nacionais mas pouco encontrava. comecei, então, a pesquisar em inglês, na esperança de descobrir algo mais e, finalmente, encontrei informação a sério, muito mais completa e, principalmente, encontrei uma possibilidade de tratamento que apresentava resultados bastante significativos.

apesar de totalmente descrente, numa solução, assim, tão simples, resolvi tentar a dieta sem amido (low starch diet \ the london as - dieta criada pelo dr. alan ebringer, reumatologista e pesquisador que acredita que a bactéria klebsiella, que se encontra no intestino dos doentes com espondilite anquilosante, está envolvida no desencadeamento do processo da doença, através de uma resposta imune complexa). com os estudos científicos que comprovavam a sua eficácia e com os inúmeros testemunhos de espondilíticos que tinham alcançado a remissão, eu não poderia deixar de tentar.

depois de ter lido tudo a respeito, comecei a traçar um plano de acção. listas de compras, possíveis receitas, menus semanais - essenciais para me manter na dieta e não correr o risco de não ter nada saudável para comer, tendo, assim, uma desculpa para aquele pãozinho d'avó...

nas primeiras semanas, fui radical. só comia frango, ovos e alface. confesso que o que mais me afectou não foi a fome que sentia (eu era viciada em hidratos), mas o facto de voltar a comer carne. eu fiz uma longa caminhada até conseguir tornar-me vegetariana (eu sempre gostei muito da comer carne, desde criança). porém, os filmes e documentários que assisti, deixaram-me, verdadeiramente, horrorizada, com o que fazem com os animais não-humanos e foram decisivos, ajudando-me na transição. por esse motivo, foi mesmo muito difícil e, ainda é, comer carne. hoje, o meu consumo é mínimo e quase reduzido aos ovos (também, uma indústria horrível...). por vezes, ao fim-de-semana, como um pouco de frango e, muito raramente, como peixe. contudo, à altura, a dieta era restrita à carne, peixe, ovos e muito poucos vegetais.

na terceira semana, já notava algumas melhorias. então comecei a introduzir outros alimentos, registando, sempre, no meu "diário de crise", as reacções - à semelhança do que se faz, na introdução da alimentação sólida aos bebés: cada semana, um ingrediente novo para, caso ocorra uma reacção negativa, se conseguir identificar a causa.

foram muitos anos de avanços e recuos. apesar de ter seguido, à risca o livro da carol sinclair "the ibs low-starch diet", deparei-me com diferentes reacções, entre mim e ela, perante os mesmos alimentos. descobri, por exemplo, que nem só o amido me provoca crises. existem outros alimentos que não têm amido e causam dores tão (ou mais) fortes, que um bom pedaço de trigo de favaios ou pão de mafra (ai... saudadinhas...).

ao longo dos anos, fui criando uma lista de alimentos seguros: carne, peixe, ovos, uma boa amostra de legumes, vegetais [salada verde (alface, espinafre, rúcula, agrião), couves (todas), ervas aromáticas (com a excepção do cebolinho), couve-flor, os brócolos] e cogumelos; alimentos susceptíveis de criar inflamação: fruta - é sempre uma roleta russa... e alimentos, decididamente, proibidos: produtos lácteos, tomate, milho, cebola, alho, pimento, batatas, beringelas, piri-piri e especiarias (todas, infelizmente), ervilhas, alho-francês, caramelo, vinho (seja ele qual for) e café... sim, café ;(

com os conceitos de low-carb e paleo, existe, agora, uma miríade de receitas bastante apelativas. é verdade que, a esmagadora maioria necessita sofrer alterações, já que se usam muitas especiarias, produtos lácteos e outros ingredientes inflamatórios. existe, também, a dieta auto-imune cujas receitas necessitam, igualmente, de algumas alterações.

de momento, o meu foco está direccionado para um novo objectivo: criar um e-book vegano com receitas sem amido (e outros elementos inflamatórios). estou a tentar reunir, aproveitando algumas ideias tiradas dos livros de receitas destas dietas, opções saudáveis, que não contenham produtos animais, próprias para quem segue esta linha da actuação, na prevenção da evolução da espondilite. estou, ainda, a criar um outro e-book com receitas, contendo produtos animais, para aqueles que não seguem o veganismo. ambos serão disponibilizados, gratuitamente, para quem quiser fazer download.

viver com uma doença - qualquer doença - obriga acção. não é possível ser feliz perante tanta dor, tanta debilidade, tanta deformação... eu não estava feliz, muito pelo contrário... sentia-me miserável e, o pior, estava a levar para o fundo do poço, as pessoas que mais amava. continuar inerte, não era opção.

e, apesar da crise em que me encontro, sou feliz. porque sei que esta crise é passageira. porque cabe a mim, para que assim seja e eu já estou em movimento

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