| sobre o sofrimento


"o sofrimento é opcional"... 

opcional? senti-me confusa e até um pouco revoltada, quando li esta frase, há alguns anos atrás. não entendia como é que a dor poderia ser "opcional". quem escrevera isso, não teria as dores que eu tinha, decerto....

à altura, eu só seguia os tratamentos prescritos pela medicina alopática: químicos e pouco mais... não conhecia a importância de uma alimentação correcta, o exercício físico era limitado a meia dúzia de movimentos, emocionalmente estava um trapo e quanto à higiene mental... os meus pensamentos eram um verdadeiro umbral de fantasmas decididos a permanecerem, perseguindo-me para todo o lado, a cada instante [a descrença na sociedade, o desapontamento com a "fuga" dos amigos; a incredulidade face à reacção de uma parte bastante significativa da família; a incapacidade de trabalhar; a decisão de não ter filhos...].

os tratamentos alopáticos nunca surtiram qualquer efeito, em mim. deixei de tomar medicamentos há vários anos (somente paracetamol, agora, nem isso) e desisti, no ano passado, de ir ao hospital, quando tenho uma crise porque mesmo com vários tratamentos, a dor permanece.

o ano que passou foi, sinceramente, um autêntico annus horribilis. estive doente, praticamente, o ano inteiro - o meu sistema digestivo enlouqueceu, perdi imenso peso e com trinta e sete quilos, comecei, também a perder imenso cabelo, que me caía às mechas. a fraqueza generalizada obrigou-me a reduzir, drasticamente, as horas de trabalho e a incerteza que envolvia o diagnóstico, que tardava em chegar, deixava-me, francamente angustiada e assustada. para ajudar, um dos exames de diagnóstico obrigou-me a ingerir uma quantidade bastante significativa de alimentos com glúten e tudo o que tem glúten tem amido, permitindo, assim, a recidiva da espondilite anquilosante. a perda de quatro dos meus meninos [a verdadeira dor que não passa] e o falecimento de um familiar deixaram-me, completamente, refém de intermináveis crises álgicas, porque as emoções despertam todas as minhas maleitas. finalmente, em dezembro, as dores foram-se desvanecendo e tenho estado, desde então, totalmente sem dores e sem os restantes sintomas, referentes não só à ea como também à neuralgia pós-herpética e à síndrome fibromiálgica.

por diversas razões, já explicadas no post anterior, a espondilite voltou há duas semanas atrás e a ela, resolveu juntar-se a fibromialgia, com alguns sintomas da neuralgia pós-herpética, à mistura. a intensidade da dor, depressa, atingiu o topo da escala.

como já referi, para mim, os medicamentos alopáticos são inúteis e, assim sendo, o hospital não é opção. o meu tratamento está a passar pela toma de suplementos, cura quântica, reiki, meditação e breves exercícios de alongamento (a dor tem sido extremamente intensa, impedindo-me de movimentar muito). como já me sinto, consideravelmente, melhor (apesar da dor ainda estar num 8, segundo a escala), em breve, regressarei ao ginásio.

e foi na semana passada, em plena crise, que compreendi, o verdadeiro significado da frase "a dor é inevitável, o sofrimento é opcional". é verdade que eu lera muito a respeito, mas nunca conseguira compreender este "opcional". uma noite destas, a intensidade da dor estava muito perto de um dez. sentia o meu corpo paralisado, mas a mente não parava: afirmações positivas, mantras, meditação ho´oponopono... e, no meio da terapia da gratidão, apercebi-me que, apesar de não me conseguir mover, devido à dor, tudo em mim sorria, ao enumerar tudo aquilo pelo o qual me sentia grata (e era tanto...). não tinha como não sorrir... apercebi-me, nesse momento, que pela primeira vez, estava a passar por uma crise de grau intenso* e não estava desesperada, emocionalmente.

a atitude positiva, perante a doença, já me acompanha há alguns anos. consigo passar por uma crise, sem que ninguém se aperceba ou sem que eu entre em desespero. não obstante, quando a dor ultrapassa todos os limites de tolerância, ao desespero da carne alia-se o desespero emocional e eu caio, bem lá no fundo do poço. desta vez, porém, está a ser diferente. a dor está lá (eu sinto-a na carne... grita, tal louca maniatada numa camisa de forças), mas o sofrimento, não. penso que terá sido porque, desta vez, não regressei ao passado, não revi tudo o que poderia estar a fazer e não estou, não caí no mimimi, como era usual... e, creio que por esse motivo, não estou a sofrer as agruras da mente, como era usual, em crises de grau intenso.

"a dor é inevitável, o sofrimento é opcional"? sorrio...



*eu identifico três tipos de crise álgica, em mim:

1. a crise "mecânica" - provocada, maioritariamente, por trabalho ou exercício físico em excesso, movimentos mal calculados, carregar pesos (por exemplo, quando vou às compras, preciso de levar o carrinho; fazer camas, só de joelhos, muito calmamente e calculando todo o movimento a fazer)...;

2. a crise moderada a forte - costumo ter, até três\quatro vezes por ano e são de curta duração (mudança brusca de temperatura; num dia de vento forte, estar mal agasalhada; um deslize significativo na alimentação; suspensão do exercício físico...);

3. a crise de grau intenso - quando às crises 1 e 2, se junta o desequilíbrio das emoções. costuma ser uma crise que se prolonga no tempo, podendo permanecer durante semanas. felizmente, cada vez mais raras.


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