| estudar para compreender


eu era muito nova quando comecei a procurar alternativas para a dor que me acompanhava desde criança. o diagnóstico "dores de crescimento" mantinha-se aos 20 anos... lembro-me bem, tivera a pior crise da minha vida, ao ponto de ter ficado paralisada de dor. o meu pai teve que me levar ao colo para o hospital, onde fui medicada, para a dor. infelizmente, encaminharam-me, novamente, para a médica de família que, sem qualquer exame de diagnóstico, insistiu nas "dores de crescimento". completamente alterada, perguntei-lhe se, com 20 anos e 1m48cm, ela ainda acreditava que eu estaria a crescer! respondeu-me que ela é que decidia se mandava fazer exames ou não e que não, não mandaria. descrente e revoltada, nunca mais lá voltei. comecei a estudar alternativas naturais mas existia muito pouca informação, à altura. fui tomando uns suplementos alimentares e pouco mais.

os anos foram passando e a doença evoluindo, livre. a minha relação com os médicos também evoluiu, de mal para pior. muito pior.

depois de muita pesquisa, encontrei os estudos* que comprovavam a relação entre a ingestão de polissacarídeos (vulgo, amido) e a espondilite anquilosante e, depois de muito estudar, de ler vários livros e testemunhos de vários doentes que conseguiram reverter a doença, decidi alterar, completamente, a minha alimentação.

quando iniciei a dieta sem amido, confesso, estava bastante céptica. penso que só a levei mais a sério, porque o meu marido brincava comigo, dizendo que a minha compulsão alimentar e a minha adicção aos hidratos de carbono jamais me permitiriam chegar ao dia 2. eu, teimosa em último grau, decidi que iria até ao fim, só para lhe mostrar que era capaz - acreditando, contudo, que algo tão simples, jamais conseguiria reverter o meu quadro.

no dia 1 de dezembro de 2007 a minha dieta alterou-se completamente. nas semanas anteriores, programei listas de compras, ementas, receitas. tudo estava pronto para colocar à prova, a dita dieta.

posso dizer que foi difícil. eu sempre gostei muito de comer. de manhã, o pão acabado de chegar da padaria, as batatas, o arroz... mas, tinha de ser.

no início dizia, para mim mesma: "no natal, vingo-me nos pastéis de bacalhau da minha mãe". contudo, com o passar dos dias, depois de continuar a ler mais testemunhos de pessoas que seguiam este regime alimentar, a ideia de não seguir a dieta, durante as festas, foi-se desvanecendo.

como os medicamentos continham amido nos excipientes, eu retirei tudo. as dores eram excruciantes e eu ponderei desistir da dieta, muitas vezes. o que mantinha minimamente sã, eram os testemunhos que lia no fórum kickas.org.

um dia, acordei de um sono tão repousante... sentia-me bem. levantei-me e, depois de me arranjar, saí de casa. de repente, apercebi-me que estava na rua. eu não saía à rua, há tanto tempo... aliás, eu não conseguia tomar banho sozinha, quanto mais arranjar-me e ir caminhar! estava muito frio, nesse dia. nevoeiro cerrado e eu só estava de camisola!

sempre com frio, sempre doente - principalmente, em dias gelados de nevoeiro... como é que eu conseguia andar?

a minha mãe ligou-me porque ela sabia bem como eu ficava, quando o tempo piorava. a sua reacção foi igual à minha: espanto... e muita alegria! depois de tantos anos... um dia sem dor!

eu já não me lembrava como era estar sem dores! ria e chorava, ao mesmo tempo!

"só pode ser da dieta" - dizia a minha mãe. eu não tinha associado esta mudança, à dieta. aliás, nem me tinha lembrado dela... depois de pensar um pouco, concordei. afinal, parecia que sim. a dieta resultava...

contei ao reumatologista que desvalorizou tudo. a dieta, a melhoria nos sintomas e até a discrepância entre os resultados dos exames de diagnóstico. o médico insistiu na medicação (que eu tinha deixado de tomar) e eu deixei de lá ir. simples, assim.

tenho vários amigos médicos, que estão sempre a estudar e é assim que deveria ser, não? não consigo conceber médicos que não se actualizam, a sério, que não. eles deveriam ser os primeiros a indicar-nos todas as formas de tratamento existentes. mas não.

[na terra da minha mãe, quando eu era criança, conheci um cavalo lindo. ele tinha umas coisas estranhas, ao lado dos olhos e eu perguntei a razão. explicaram-me que eram palas e serviam para o cavalo não se distrair com o que se passava à volta dele e, assim, cavalgar sempre em frente]

o que me faz mais confusão, porém, não são os médicos. são os pacientes que aceitam tudo o que estes lhes dizem, sem se questionarem, sem pesquisarem, sem colocarem em prática, mais que não seja, para ver se resulta ou não. preferem seguir, estrada fora, com vontade de morrer, desesperados com tanta dor... mas confiantes e orgulhosos porque têm um médico espantoso** que lhes garante que não. não está comprovado e quem segue esse caminho vai atrás de modismos.

*sim: existem estudos que comprovam essa relação. quem não conhece esses estudos, sejam médicos, sejam pacientes, é porque não se deram ao trabalho de pesquisar.

**espantoso:
Espanhol|Português

espanˌˈtoso
adjetivo
1. (asombroso) espantoso, assombroso
2. (terrible) horroroso, terrível, espantoso

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